LIBERDADE PARA… BLEFES?

 
 
 
 
 

     Por que as pessoas estão nas ruas reclamando do Estado brasileiro – investimentos em serviços públicos, probidade na administração dos recursos etc.? Que é o Estado brasileiro? Quem é o Estado brasileiro?

 

     O Estado brasileiro somos nós. Nada a mais e nada a menos. Nós que estamos nas ruas? Não. Somos todos nós, todos – ele é tudo isso e apenas isso. No Estado, organizados conforme nossos objetivos e interesses concretos e ideais, nós todos nos articulamos politicamente, ou seja, nós nos articulamos não no plano pessoal, mas no plano de nossas Instituições. Que são nossas, de ninguém mais. São o nosso poder. Portanto, o Estado não é e nunca será uma representação da tradução literal de uma ideologia de um único grupo. Quem afirme algo em contrário estará blefando.

 

     A força e a legitimidade de nossos anseios particulares se fazem em uma organização. Quem não estiver organizado estará longe de participar das decisões do Estado – mas nem por isso estará fora dele. Apenas submete-se a ele. E quem está organizado? Estará vinculado a um Partido político? Não necessariamente. Partidos políticos são organizações, mas nem sempre os enunciados partidários contemplam nossas expectativas. E nem sempre adotar eventualmente, em época de eleições, por exemplo, um programa e uma linha de ação partidária significará organizar-se. Estará hoje nas ruas? Também não necessariamente. Nem sempre, em época de manifestações coletivas, adotar uma palavra de ordem significará organizar-se. Da mesma forma, nem sempre manifestar-se nas ruas significará adotar um programa e uma linha de ação partidária; e nem sempre quem está organizado manifesta-se nas ruas – poderá estar por trás delas, manipulando-as. Mas sempre – sempre – nossas atitudes, individuais ou coletivas, privilegiarão determinada ideologia. Inclusive uma ideologia que combata o Estado, o que nos deixará como que flutuando no espaço político, privados de Instituições em que nos apoiar para nos articular e poder ver realizados aqueles nossos anseios. E qualquer coisa poderá nos acontecer independentemente de nossa vontade. Quem afirme algo em contrário estará blefando.

 

    O que se vê nas ruas não são as Instituições formais do Estado, mas é o Estado brasileiro em uma de suas expressões. Que nos diz que ele está em crise. Em crise evidente. E a crise, que não é de hoje, hoje se vê porque representantes de diferentes ideologias, organizados ou desorganizados, nenhum deles satisfeito com o acordo que se fez no Estado, resolveram enfrentar-se abertamente, muitos enfrentando a ideologia que o Governo diz professar, alguns a favorecendo, alguns outros enfrentando o próprio Estado enquanto espaço real ou virtual de articulação nacional. Quem afirme algo em contrário estará blefando.

 

     As Igrejas também são organizações. Agem como Partidos políticos. E uma religião, tal como uma seita, também é ideologia. Quem está nas Igrejas estará organizado. Quem afirme algo em contrário estará blefando. Mas não só o que chamamos de Partido, de religião ou de Igreja será ideologia, é organização e se traduz em poder. A palavra de ordem “Estado laico”, que, em tese, pretende traduzir uma verdade absoluta que estaria acima das ideologias presentes no Estado, traduz nada mais que também ideologia, e permite uma organização bem mais semelhante à das Igrejas que à os Partidos políticos. E  organiza.

 

     Um “Estado laico” não evitará o preconceito dos representantes dessa ideologia em relação aos representantes de diferentes outras ideologias presentes na Política nacional. Ou, mais especificamente, presentes nas ruas, mansas ou violentas, e nas Instituições que abrigam a articulação de quase todos com quase todos, tal como o Congresso Nacional ou uma Presidência eleita por coligações partidárias e apoiada por lideranças extrapartidárias. Nosso Estado, o Estado brasileiro, deve ser laico, ou seja, deve não estar subordinado a Igrejas, seitas, religiões? Sim. Como não deve se subordinar a caprichos partidários. Mas laico ele é em suas Instituições, desde que a República se proclamou. E nada indica que assim não permaneça. Quem afirme algo em contrário estará blefando.

 

     Então por que um Estado laico reivindica um “Estado laico”, senão para afastar das decisões de Estado grupos que estejam organizados em suas Igrejas? Para que se substituam, nas consciências tão pouco esclarecidas, “Deus” por um “Filósofo” qualquer, o Evangelho por uma bíblia laica qualquer, seis por meia dúzia?  

 

     Eu, particularmente, não tenho Partido, não freqüento Igrejas, não sou religiosa, não creio em verdades absolutas, muito menos naquelas cujos “pastores” as fantasiam de “princípio filosófico” ou apelidam de “não-ideologia” e jogam às ruas em palavras de ordem que a massa, formada por ignorantes (mesmo que estes não se manifestem estúpidos exceto em sua recusa diria neurótica a observar a realidade – e, portanto, ignoram a realidade), pretende impor como absolutamente corretas sobre os demais. Observo a Política como objeto de estudo, racionalmente – não a pratico como paixão. Mas, como já disse por aqui, ter fé é condição de humanidade. Quem afirme algo em contrário estará blefando.

 

     Creio firmemente, pois, em que o Estado é necessário, que se compõe e se fortalece no embate entre as idéias (para o que é necessário conhecê-las) e em que um acordo de fato racional possa e deva ser alcançado em benefício do bem estar de todos nós. Para o que é preciso ter claros os nossos limites, tanto os individuais e os coletivos, quanto os geopolíticos e econômicos. Quem afirme algo em contrário estará blefando.

 

     E, se creio (ideologicamente) que sou democrata, não poderei me manifestar preconceituosamente nem permitir preconceitos de qualquer ordem – porque tanto “democracia preconceituosa” quanto “preconceito democrático” são contradições em termos. O que não significa que deva me obrigar a ser tolerante com tudo e com todos. 

 

     Creio ainda em que tudo de que depende o Estado que dizemos querer alinhavar (não é por isso que estamos nas ruas? Mas como seria ele, afinal?) é da responsabilidade da consciência de todos nós. E da consciência das “lideranças” que muitos de nós vamos seguindo como ovelhas, sem querer parar para pensar sequer uma vez, muito menos duas vezes. E quem afirme algo em contrário estará blefando.

 

     Recomendo, portanto, alguma atenção ao vídeo indicado abaixo, que deve ser escutado até o fim, uma vez que ao discurso e à postura que ele divulga nenhum “ativista”, radical ou não, e nenhum canal da “Imprensa livre” vem permitindo espaço. Por puro e absolutamente explícito preconceito. Preconceito ideológico. Porque lhes convém blefar. Porque democratas não são. Quem afirme algo em contrário… estará blefando!

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=LcClBBNeczc                

  

 

  

 

 

 

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