‘PEDE PRA SAIR!”

Capitão Nascimento

 

       Não que o “Capitão Nascimento” corresponda a meu tipo de macho ideal, que é… digamos… mais “intelectualizado” ou mesmo mais… “sofisticado” – mas o desempenho de Wagner Moura na pele de um personagem íntegro, capaz, sério, amargurado, dedicado, responsável, padrão “família”, com tantas virtudes que chegava a beirar o estereótipo, esteve muito bom. Comoveu multidões. Além de que os roteiros e a direção dos dois filmes da série “Tropa de Elite” foram também muito bons. São filmes que quase reproduzem exatamente a nossa realidade. Gostei tanto do primeiro que corri a ver o segundo tão logo foi lançado. Eu corri e todo mundo correu.

 

      Depois de dois filmes ao bom estilo capa-e-espada e me refiro ao senso de justiça e de lealdade aos companheiros, ao destemor e à sagacidade em combate indicativos da “nobreza” do personagem central – seria quase impossível que o povo não associasse intimamente esse personagem ao ator, que, vestindo a farda do BOPE, segue sendo lembrado em inúmeros quadrinhos espalhados nas “redes sociais”. O problema é que, do discurso eminentemente político de antes, o personagem passou, num zás, a outro, absolutamente oposto, francamente politiqueiro, pura demagogia.

 

      Ao ouvir aquele discursinho sonso, empoado, medíocre, pontuado de chavões, no final do 2º filme da série – o “o inimigo agora é outro” , que tanto desafinou de todo o resto, uma pulga me picou atrás da orelha. Aquele discurso me parecia antecipar um 3º filme da série que, muito provavelmente, seria não mais que uma grande xaropada. Essa tropa da “elite política” tem muita coragem… e tem muita arte… Usa e abusa delas.

 

      E o pior de tudo é que esses caras fazem a cabeça de muita gente…

 

      Esse terceiro filme da série não veio. E foi bom que não viesse. Mas vieram outros em que Wagner Moura – que, para as multidões, “é” o “Capitão Nascimento” – se destaca.

 

      A percepção e a imaginação do povo não se mostram tão férteis quanto alguns dizem que elas são, mas o leque de associações possíveis é um bocado amplo. E não requer muita inteligência. “Corrigindo” a imagem transmitida na quase totalidade dos filmes da série “Tropa de Elite”, o “Capitão Nascimento” poderá, a partir de agora, ser projetado e lembrado não mais fardado, mas nu, rolando na cama com outro gajo. É o que vai acontecer. E, logo, logo, mesmo sendo ao máximo tolerante e respeitoso com todas as escolhas e tendências individuais de todos e cada um, quem insistir muito, seja homem ou seja mulher, em só se comportar como um heterossexual se comporta ouvirá um sonoro “pede pra sair”. E, sob tanta pressão, pedirá para sair não só do jogo como do banco e também da arquibancada. 

 

      Tudo bem. Mas sair por onde? Para chegar até onde?  

 

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Cenas de sexo gay e nu de Wagner Moura chamam atenção no Festival de Berlim

Estéfani Medeiros –  Do UOL, em Berlim – 11/02/201411h45 

Na contramão de “Hoje eu Quero Voltar Sozinho”, que usa da delicadeza e da percepção para narrar a história de um adolescente que se descobre gay, “Praia do Futuro”, outro drama brasileiro que foi exibido nesta terça-feira (11) na mostra competitiva do Festival de Berlim, apresenta a história de um casal gay adulto que busca se aventurar e encontrar coragem para viver. O longa chamou a atenção por conta das diversas cenas de sexo e nu frontal de Wagner Moura.

O novo longa do diretor Karim Aïnouz (de “O Abismo Prateado”, 2011, e “O Céu de Suely”, 2006) foi apresentado para uma sala cheia, mas não arrancou palmas da plateia. Um dos integrantes do júri, o ator Christoph Waltz, bocejou algumas vezes durante a exibição. Cerca de 15 espectadores deixaram a sala nas cenas que envolviam carícias do casal.

Na conversa com os atores após a exibição, Wagner Moura, Jesuíta Barbosa e o alemão Clemens Schick comentaram sobre o trabalho, filmado em Berlim e em Fortaleza (CE) em 2012. “Uma das coisas importantes é que [os atores] falassem, se aventurassem, se arriscassem e fossem a lugares desconhecidos. Queríamos falar sobre o contratempo entre medo e coragem“, disse o diretor. (…)

 

  

  

 

 

 

 

 

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